quarta-feira, 27 de agosto de 2014

" O OLHO DE VIDRO DO MEU AVÔ " DE BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS

                                 SITE DA EDITORA:  www.modernaliteratura.com.br

INDICAÇÃO: a partir de 14 anos ( leitor crítico) 

48 PÁGINAS

Assim começa o livro O OLHO DE VIDRO DO MEU AVÔ:

  
                           Era de vidro o seu olho esquerdo. De vidro azul-claro e parecia
                   envernizado  por uma  eterna noite. Meu avô via a vida pela  metade,
                   eu cismava, sem fazer  meias  perguntas. Tudo  para ele se  resumia
                   em um meio mundo. Mas via a vida  por inteiro, eu  sabia. Seu  olhar,
                   muitas  vezes,   era  parado  como  se  tudo  estivesse  num  mesmo
                   ponto. E estava. Ele nos doava  um sorriso  leve com  meio canto da
                   boca,  como   se  zombando  de  nós.  O   pensamento  vê  o  mundo
                   melhor que os olhos, eu tentava justificar. O pensamento  atravessa
                   as  cascas  e  alcança o  miolo das coisas. Os olhos só acariciam as
                   superfícies. Quem toca o bem dentro de nós é a imaginação.


A história  deste  livro é narrada  em  primeira  pessoa: o narrador é quem diz que seu
avô não deixou herança, deixou apenas a sua história.

Para contar aos leitores  a  história de seu  avô, o autor-narrador recolhe, na memória
suas lembranças de infância. São  fragmentos  de  uma  vida  vivida em  Bom Destino,
segundo ele, cidade pequena  e plana, cansada de  tanta paz. Com  um olhar atento e
cheio de  poesia, ele vai  mostrar  o que  não pode  ser esquecido - a  história daquele
ser cativante, que  guardava muitos mistérios - seu avô - que via o mundo com um olho 
só. outro olho, o  olho  esquerdo, era  de  vidro  e  foi comprado  na  cidade de  São
Paulo.

A narrativa mostra, também, como aconteciam as muitas tentativas do neto de decifrar
todo o  mistério, que  estava  escondido  por  trás  daquele  olho  de  vidro, que mesmo
imóvel,   fixo ' via ' a  verdade  mais  profunda. Misturando  realidade  e  fantasia, o  avô
buscava lugares que o olhar não  enxergava. A  imaginação do avô ia longe. O que  ele
não  via, inventava. Através  da  imaginação, o  neto  acreditava,  que  o  avô conseguia
alcançar o miolo das coisas.


                 "Meu  avô  imaginava sempre,  eu  acreditava. Vencia as horas lerdas
                 deixando o  mundo  invadi-lo  por  inteiro. Ele  hospedava  essa visita
                 sem espanto. Saboreava o mundo com  antiga  fome. O que  seu olho
                 de vidro não via, ele fantasiava. E inventava  bonito, pois eram da cor
                 do mar os seus olhos. E todo mar é belo por ser grande demais. Tudo
                 cabe dentro de sua imensidão: viagens, sonhos,  partidas, chegadas,
                 mergulhos e afogamentos."


O autor, bem a  sua maneira, neste  texto  também trabalha a palavra, brinca  com  ela e
através  de  expressões  (olho  gordo / olho  de  peixe-morto / menina  dos  olhos... ), de 
ditados (cego é aquele que  não  quer  ver / em  terra  de cego quem tem um olho é rei),
de repetições ( Fui  criado por  via das  dúvidas. Quando adoecia, minha mãe chamava  
farmacêutico,  por via das  dúvidas. Mas,  por  via das  dúvidas, acendia uma vela. Por
via das  dúvidas escaldava um  chá. Por via das dúvidas mandava benzer. E  eu,  por via
das dúvidas, voltava a ter saúde.), de metáforas ( O pensamento atravessa as cascas e
alcança o  miolo das  coisas. Os  olhos  só  acariciam  as  superfícies. ) de  sinestesias
(  Muitas   vezes  esse   silêncio  se  misturava  com  o  cheiro  do  alho  que  minha  avó 
refogava para o arroz; possuía o aroma do café coado na hora; tinha o gosto dos sonhos 
que  minha avó  fritava  e cobria  com açúcar  e  canela.) de comparações ( O silêncio é
essência. )...constrói um texto que faz acordar as emoções.



O autor - narrador tenta, mas não consegue contar tudo  aos leitores. Há muita coisa
escrita nas entrelinhas.  É o leitor que deverá preencher as ' lacunas ' que  encontrar
durante a leitura. 

O AUTOR:


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