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INDICAÇÃO: a partir de 14 anos ( leitor crítico)
48 PÁGINAS
Assim começa o livro O OLHO DE VIDRO DO MEU AVÔ:
Era de vidro o seu olho esquerdo. De vidro azul-claro e parecia
envernizado por uma eterna noite. Meu avô via a vida pela metade,
eu cismava, sem fazer meias perguntas. Tudo para ele se resumia
em um meio mundo. Mas via a vida por inteiro, eu sabia. Seu olhar,
muitas vezes, era parado como se tudo estivesse num mesmo
ponto. E estava. Ele nos doava um sorriso leve com meio canto da
boca, como se zombando de nós. O pensamento vê o mundo
melhor que os olhos, eu tentava justificar. O pensamento atravessa
as cascas e alcança o miolo das coisas. Os olhos só acariciam as
superfícies. Quem toca o bem dentro de nós é a imaginação.
A história deste livro é narrada em primeira pessoa: o narrador é quem diz que seu
avô não deixou herança, deixou apenas a sua história.
Para contar aos leitores a história de seu avô, o autor-narrador recolhe, na memória,
suas lembranças de infância. São fragmentos de uma vida vivida em Bom Destino,
segundo ele, cidade pequena e plana, cansada de tanta paz. Com um olhar atento e
cheio de poesia, ele vai mostrar o que não pode ser esquecido - a história daquele
ser cativante, que guardava muitos mistérios - seu avô - que via o mundo com um olho
só. O outro olho, o olho esquerdo, era de vidro e foi comprado na cidade de São
Paulo.
A narrativa mostra, também, como aconteciam as muitas tentativas do neto de decifrar
todo o mistério, que estava escondido por trás daquele olho de vidro, que mesmo
imóvel, fixo ' via ' a verdade mais profunda. Misturando realidade e fantasia, o avô
buscava lugares que o olhar não enxergava. A imaginação do avô ia longe. O que ele
não via, inventava. Através da imaginação, o neto acreditava, que o avô conseguia
alcançar o miolo das coisas.
"Meu avô imaginava sempre, eu acreditava. Vencia as horas lerdas
deixando o mundo invadi-lo por inteiro. Ele hospedava essa visita
sem espanto. Saboreava o mundo com antiga fome. O que seu olho
de vidro não via, ele fantasiava. E inventava bonito, pois eram da cor
do mar os seus olhos. E todo mar é belo por ser grande demais. Tudo
cabe dentro de sua imensidão: viagens, sonhos, partidas, chegadas,
mergulhos e afogamentos."
O autor, bem a sua maneira, neste texto também trabalha a palavra, brinca com ela e
através de expressões (olho gordo / olho de peixe-morto / menina dos olhos... ), de
ditados (cego é aquele que não quer ver / em terra de cego quem tem um olho é rei),
de repetições ( Fui criado por via das dúvidas. Quando adoecia, minha mãe chamava
o farmacêutico, por via das dúvidas. Mas, por via das dúvidas, acendia uma vela. Por
via das dúvidas escaldava um chá. Por via das dúvidas mandava benzer. E eu, por via
das dúvidas, voltava a ter saúde.), de metáforas ( O pensamento atravessa as cascas e
alcança o miolo das coisas. Os olhos só acariciam as superfícies. ) de sinestesias
( Muitas vezes esse silêncio se misturava com o cheiro do alho que minha avó
refogava para o arroz; possuía o aroma do café coado na hora; tinha o gosto dos sonhos
que minha avó fritava e cobria com açúcar e canela.) de comparações ( O silêncio é
essência. )...constrói um texto que faz acordar as emoções.
O autor - narrador tenta, mas não consegue contar tudo aos leitores. Há muita coisa
escrita nas entrelinhas. É o leitor que deverá preencher as ' lacunas ' que encontrar
durante a leitura.
O AUTOR:
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