quarta-feira, 31 de outubro de 2012

LEMBRANDO CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE NO "DIA D"

                                       Vídeo produzido pelo Instituto Moreira Salles (IMS)

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE POR ADRIANA CALCANHOTTO

TEXTO: O ELEFANTE
                                              
                                            (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)


Fabrico um elefante 
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira                                                    
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.

Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza 
a espojar-se nos circos 
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita 
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num enfastiado
que já não crê nos bichos 
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana 
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que o ameaça
deixá-lo ir sozinho.


É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância 
sua mínima vida,
e não há cidade 
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
a passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai 
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe, 
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado, 
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou 
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto da pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.

LIVRO: A ROSA DO POVO
AUTOR: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
EDITORA:COMPANHIA DAS LETRAS


SAIBA MAIS SOBRE O DIA D AQUI:
                                                       diadrummond.ims.uol.com.br

          HOMENAGEM AO POETA MINEIRO CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
 QUE ESTARIA,  HOJE, 31 DE OUTUBRO DE 2012, COMPLETANDO 110 ANOS.


6 comentários:

João disse...

gostei desse texto e gostei do livro também..muito obrigado

fiz muito sucesso com alho por alho e dente por dente na escola


beijos

Regina Porto disse...

Não sei de outro brasileiro a quem eu desse um dia. Drummond mais que merece.
Regina
www.livroerrante.blogspot.com

Mirtes Aquino disse...

Adorei, Cristina! Obrigada pelo vídeo!
bjs

CRISTINA SÁ disse...

João,

Estava com saudades de
você!

Este texto de Carlos
Drummond de Andrade
é muito interessante.

Fez sucesso na escola!
Que bom!
beijo
Cristina

CRISTINA SÁ disse...

REGINA,

"DIA D" CARLOS DRUMMOND
DE ANDRADE.

O DIA D FOI CRIADO PARA
HOMENAGEÁ-LO SEMPRE. O
QUE É PRA LÁ DE MERECIDO.

VAMOS ESPALHAR ESTA IDEIA?

VOU TIRAR UM TEMPINHO PARA
LHE FAZER UMA VISITA.ESTOU
COM SAUDADES.

ESTOU TRABALHANDO MUITO E
JÁ MERECENDO FÉRIAS, MAS
ELAS PARECEM NÃO CHEGAR
JAMAIS.
BEIJO,
CRISTINA

CRISTINA SÁ disse...

Oi! MIL,
Eu fiquei muito feliz quando
encontrei este vídeo. Eu
também gostei muito!!!!
beijo
Cristina