terça-feira, 20 de setembro de 2016

VOCÊ NÃO PODE PERDER O LANÇAMENTO DA EDITORA TINTA NEGRA: A GENTE VAI SE SEPARAR DE ANA LETÍCIA LEAL (RIO DE JANEIRO)



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INDICAÇÃO: a partir de 14 anos (leitor crítico)
  
112 PÁGINAS

TRECHO


   "Morrer deveria ser bem doce  para uma  pessoa  como você.  Mas sua
    morte  é  lenta  e  amarga.  Não  tenha   medo  de  morrer!   Mãe,  estou
    falando uma coisa ridícula.Não dá para não ter medo. A  gente sempre
    tem  um  certo medo de tudo  o  que   desconhece.  Pensando  bem,  a
    morte  é mais um tempo de inquietude. Uma vez, tive tanto medo, mas
    tanto, de ir numa montanha-russa,  que  não curti  nem um pouco. Faz
    dezessete anos, mas me lembro  bem.Eu em pânico, enquanto minhas 
    amigas se divertiam. Já de outras vezes, soube aproveitar – com medo
    e tudo. Então, acho que dá  para curtir, sim, deixar  de viver. Apesar do
    medo."


“Eu preciso transformar em  livro esta  dor horrível”, anuncia  a  narradora, logo  no 
começo de A gente vai se separar. A sentença  tem  uma  destinatária  exata Uma
interlocutora cada vez  mais  silenciosa, cada  vez mais  ausente. Alguém que, em
breve,  vai   morrer. Antes  do  Natal,  talvez.  Uma   pessoa  que,  na   verdade,  já
parece “bem  mais  morta do  que quando  comecei  a  escrever”. Que teve, súbito, 
um  diagnóstico  inesperado. Câncer  no  cérebro. E  que,  agora,  nem sempre  se
parece  com quem era antes:“Quando eu crescesse, eu teria  uma filha, e  a tenho
de supetão: ex-mãe. Cadê a minha mãe? Não volta mais.”

Nesta  nova  obra, Ana  Letícia  Leal  constrói   um  relato   contundente  e  singular
sobre a  trajetória  da  perda. Um  livro  que  é,  ao   mesmo   tempo,  um  diário  de
preparação  para  o luto  e  uma  missiva  dedicada  a alguém  que  não  chegará a
lê-la.  Um  tratado  sobre  a  dor  e  a  solidão. Uma  narrativa  sobre  o  declínio  do
corpo e a fragilidade da  vida. Mas, também,  um  elogio  à arte de narrar e  ao  seu
poder de resistência e de reinvenção. 

Em fragmentos enumerados como numa contagem  regressiva, a  autora  empresta
sua enorme  habilidade  literária  à construção  de  um  quebra-cabeças  tão  aflitivo
quanto lírico. Os detalhes do tratamento, a  radioterapia  e as habilidades  perdidas
dia  a  dia   se   enovelam  às   lembranças   do  esmalte   vermelho  nos  dedos  ao 
telefone, do  apreço à  música e  à loquacidade, do  temperamento forte. Com  isso,
a personagem vigorosa do passado vai se imiscuindo na figura da mãe que adoece
— e desaparece —um pouco mais a cada instante.    

Um  pote de doce de leite compartilhado, os  momentos  diante da TV,  o  sanduíche 
preparado  com  esmero, a  gata que  se  aproxima e interrompe a  escrita.  A gente
vai  se separar encara a morte pelo ângulo mais íntimo — e,  por isso  mesmo, mais desconcertante. Em contraponto, a trajetória de sustos,  ambulâncias  e internações
é  narrada   de  forma  crua  e   objetiva.  Como  numa  montanha-russa,  em  que  a
literatura é,  simultaneamente, tábua  de  salvação e  dose extra  de  adrenalina. Por 
tudo isso, Ana Letícia Leal mostra mais uma  vez por que é um dos grandes talentos
 da jovem geração de autores brasileiros. 

O  luto e  a  perda, temas  recorrentes  em  sua  obra,  aqui se  desenham  de forma
traiçoeira, em múltiplas camadas de luz sobre a dor brutal da morte materna. 

A ESCRITORA:


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